Escola de Redes
Introdução à Escola de Redes
A Escola de Redes é uma rede de pessoas dedicadas à investigação sobre redes sociais e à criação e transferência de tecnologias de netweaving. A plataforma virtual da rede usa o Ning como base para estruturação dos grupos e pessoas e você pode se conectar aqui. A E=R é provavelmente a primeira escola sobre redes sociais, organizada dentro do que vem sido chamado de nova ciência das redes.
Na página a respeito da constituição da Escola-de-Redes, eu encontrei, e republico aqui, duas visões inagurais sobre a Escola, sua estrutura, atividades e demais sugestões sobre o início desta organização em rede, por Augusto de Franco e David de Ugarte.
Para auxiliar os recém-chegados e também para guiar os meus próprios estudos, eu estou organizando uma seleção de documentos a respeito da E=R que você pode encontrar aqui.
Duas visões inaugurais sobre a Escola de Redes
“Não reunir é a derradeira ordenação”
Augusto de Franco (17-20/06/08)
Não estou participando da fundação, para usar a feliz expressão de David de Ugarte, de uma “nova burocracia associacionista” (como a das ONGs). A Escola-de-Redes não é mais uma ONG e nem uma frente ou coligação de organizações hierárquicas da sociedade civil.
Ainda bem. Sim, pois boa parte dessas organizações que se dizem defensoras de uma democracia supostamente mais substantiva, mais social ou mais participativa, raramente pode praticar o que prega no seu interior. Por que? Ora, porque são, via de regra, organizações piramidais, quase sem rotatividade em suas direções: pequenos castelos, igrejinhas, feudos de algum cacique (muitas vezes de famílias), quando não ligadas ao sistema clientelista de governos populistas.
A Escola-de-Redes, no que depender de mim e dos meus parceiros iniciais, não terá financiamentos governamentais. Poderá, sim, sempre por meio de seus membros conectados, prestar serviços a governos, empresas e organizações da sociedade civil. Ainda por meio de seus membros conectados, poderá fazer trabalhos voluntários e trabalhos remunerados. Mas não viverá de verbas públicas conseguidas a partir do apadrinhamento político, do lobby, daquela intermediação profissional de recursos na qual se especializaram os agentes dessas verdadeiras “empresas de coligações” em que se transformaram vários partidos do nosso velho sistema representativo.
Desnecessário dizer que não poderá ser usada para fins partidários ou corporativos, nem mesmo poderá ser, de qualquer forma ou por qualquer meio, direto ou indireto, associada a esses fins.
Não imagino, igualmente, que devamos organizar qualquer novo tipo de “religião laica”, de instituição filosófica baseada em princípios ou valores, como parece estar em voga nos dias que correm. Nada de princípios e valores definidos top down, nem mesmo os chamados princípios de sustentabilidade (tão em moda na atualidade). Nada de divulgar princípios e valores para fazer a cabeça dos outros, para educar os semelhantes ou guiá-los por alguma senda. Nada de possuir a “proposta correta” ou a “ideologia verdadeira” para alcançar qualquer tipo de utopia, seja ela o império milenar dos seres superiores ou escolhidos, o reino da liberdade e da abundância para todos, para redimir a humanidade ou parte dela ou para salvar de algum modo a espécie humana ou o planeta. Quem quer afirmar princípios e valores deve vivê-los na prática da sua experiência social. Já foi o tempo dos proselitismos de qualquer natureza.
Se nos dedicamos à pesquisa e à experiência com redes sociais, temos que tentar nos organizar e trabalhar em rede. Para mim, isso basta.
Não é trivial assumir as conseqüências dessa opção pessoal. Significa banir da “wikipedia memética” aquele conjunto de programas verticalizadores (que fica lá arquivado no subsolo da nossa consciência gerando pulsões de morte: de obstruir, separar, excluir) que infundem virtudes autocráticas, ainda muito valorizadas em alguns meios, como ordem, hierarquia, disciplina, obediência, controle, vigilância (ou patrulha) e punição e fidelidade impostas de cima para baixo. Por incrível que pareça, algumas empresas inovadoras — que não têm vergonha de assumir que o lucro é uma obrigação (não um objetivo) — estão conseguindo se desvencilhar dessa herança cultural autoritária com mais facilidade do que as organizações sem fins lucrativos (ditas progressistas e democráticas) da sociedade civil.
Bom, é isso aí. Para participar da Escola-de-Redes ninguém é obrigado a concordar com meus pontos de vista. Mas cumpro aqui a obrigação de declará-los.
A Escola-de-Redes, no que depender de mim, nunca será um grupo com um propósito que não possa ser público e compartilhado por todos os que dela participam. Já faz muito tempo que não organizo nem me agrego a grupos, patotas, igrejinhas, conventículos que adotam dois programas — um para dentro e outro para fora — e, assim, pensam sua atuação no mundo de forma tática, procurando cativar pessoas ou captar sua confiança, “fazer amigos”, usar a diplomacia para atingir seus objetivos. Depois de muitos anos de batalhas infrutíferas e de algum sofrimento, cheguei à conclusão de que esse tipo de atuação não é, vamos dizer assim (e não apenas porque sustentabilidade seja o tema da hora), eticamente sustentável, pois que leva necessariamente à utilização das pessoas como instrumentos, manipulando-as em prol de desideratos que elas não tiveram a chance de compartilhar.
Não temos nem que ganhar as pessoas para a nossa causa, nem de usá-las como escadas para a realização de nossos objetivos. Para quê? Isso é uma ilusão egóica: não vamos mesmo a lugar nenhum sem os outros. Por isso, imagino que devamos sempre estimular a diversidade de opiniões, de visões, de pontos de vista. O objetivo coletivo deve ser a polinização mútua de idéias e comportamentos. Somente assim será possível permanecermos abertos à mudança das nossas próprias opiniões, visões e pontos de vista e atitudes.
Não-alinhar. Não-reunir (como dizia Frank Herbert, numa passagem do “Messias de Duna” que não me canso de citar: “Não reunir é a derradeira ordenação”). Não criar espaços internos mais-estratégicos do que os externos (ou seja, não-separar).
Não traçar caminhos para os outros. Não criar sulcos para fazer escorrer por eles as coisas que ainda virão. Não tentar administrar o futuro. O desafio do novo nomadismo que está emergindo – não o nomadismo de grupos, de pessoas reunidas, e sim o nomadismo de pessoas conectadas em rede – é saber aceitar ou suportar a incerteza e a imprevisibilidade.
Toda rede é um conjunto de caminhos. Todo caminho é uma caminhada para o futuro. E cada caminho é uma possibilidade diferente de futuro. Se alguém está conectado a duas pessoas, tem dois caminhos, duas possibilidades diferentes de futuro. Se estiver conectado a dez pessoas, são dez possibilidades de inovação, são dez oportunidades, são dez portas diferentes para o futuro. São dez pílulas de cores diversas que — para lembrar a excelente metáfora do filme The Matrix — Neo pode tomar.
Ainda que a Escola-de-Redes possa ter nodos formados por grupos locais de pessoas, penso que a conexão mais importante — o principal constituinte da escola — é aquela feita por pessoas dispersas que querem cooperar.
Cinco claves para trabajar en red fructíferamente
David de Ugarte (22/06/08)
Mi aporte a la inauguración del primer nodo de la Escuela de Redes, ayer en Curitiba:
1 - No hay que construir organización, no es necesario — ni positivo — fijar estructuras en una red distribuida. Es justo el modelo contrario al del activismo de los siglos XIX y XX, la organización preexiste y es la propia red distribuida.
2 - Cuando la comunidad emerge, no existe para ningún fin distinto del de la propia interacción de sus miembros. No tiene sentido por ejemplo hablar de lo que debería hacer u ofrecer la Escola de redes. Como dice nuestro amigo Augusto de Franco, la escuela es la red: no hay una institución que ofrezca o “haga” nada, no hay un sujeto colectivo, aunque se comparta una identidad, el proceso de aprendizaje emerge de la propia interacción, no de la participación en proyectos lanzados de arriba a abajo. Así que si queremos aprender o investigar sobre, pongo por caso, bibliotecas en red, lo mejor que podemos hacer es documentar por nuestra cuenta y abrir un debate en la red sobre ello.
3 - Las algaradas francesas del 2005 nos enseñaron que una red distribuida puede crecer extendiendo el conocimiento que ya ha alcanzado, sin tener que repetir una y otra vez su debate interno y el proceso de aprendizaje original. Para ello tan sólo es necesario que el crecimiento no sea una mera interconexión entre nodos sueltos o representantes de subredes por muy distribuidas que sean cada una de estas. Si la red crece de forma distruida, no conectando líderes, sino un número amplio de nodos entre si, las experiencias de cada red pasan a formar parte del conjunto de experiencias de cada una de ellas.
4 - En ningún caso este conocimiento es único, tiene una única posición. La plurarquía que mueve la capacidad adaptativa, innovadora, de las redes, se basa en la diversidad. Esa diversidad, esa divergencia de pareceres, es fundamental para la sostenibilidad de la red. ¿Por qué? Porque cuantas más alternativas sean exploradas más aumentarán las probabilidades de supervivencia ante cambios en el medio.
5 - Las redes que no celebran, no merecen tener nada que celebrar. La celebración, la fiesta, lo lúdico y lo lírico es fundamental para la generación de confianza… y la confianza es el capital de las redes sociales, la base del capital social de una red.